sábado, 4 de novembro de 2017

Um Presente da Natureza (Ipê Rosa)


Ainda que vocês me banhem com monóxido de carbono, hidrocarbonetos, dióxido de enxofre, aldeídos, dióxido de carbono, óxidos de nitrogênio e materiais particulados, eu vos ofereço flores.

domingo, 17 de setembro de 2017

Posse


Eu posso andar milhares de quilômetros e não encontrar um cavalo sequer que não tenha dono. 
Uma galinha, uma ovelha, um pedaço de terra. 
Mas... o que nos torna donos de algo? 
O dinheiro? 
Uma invenção humana, cujo valor só existe na mente de seus inventores? 
A criação que dominou o criador...

sábado, 9 de setembro de 2017

Simples


Nem shoppings, nem grandes centros. 
Nada fabricado, nada construído.
O que me encanta mesmo é a nuvem que cruza o céu,
O sol que nasce ao fim da imensidão do mar,
A lua sob qualquer forma,
A folha que dança em queda,
A onda que me encontra,
O silêncio ao vento,
A chuva que cai,
Conversa com gente simples,
A companhia dos amados.


quarta-feira, 30 de agosto de 2017

quarta-feira, 16 de agosto de 2017

A Grande Ilusão


Na década de 80 era muito comum os programas infantis exibirem desenhos animados produzidos nos anos 50 e 60. Garoto inocente, eu me envolvia com os episódios numa miscelânea de sentimentos que incluía alegria e tensão. Atento aos diálogos da bonecada, uma frase que não raramente eu ouvia na fala dos vilões ficou em minha mente durante anos. A frase era esta: "Vou dominar o mundo!"

Em minha mente se repetia o pensamento sobre quão bobo era aquilo, já que para mim era impossível que o mundo fosse dominado por uma pessoa, ou por um pequeno grupo de pessoas. Décadas após esta fase a lembrança me veio a tona e a afirmação se tornou uma dúvida.

Homem feito, hoje vejo grande parte da população dominada pela necessidade de sobrevivência, disputando vagas com um número crescente de concorrentes em um número decrescente de empresas e estabelecimentos comerciais.

Vejo empresários dominados pelas leis governamentais que os sugam cada vez mais, ao mesmo tempo em que dificultam mais e mais qualquer forma de tentar driblar o pagamento exagerado de impostos.

Quanto aos governos - dirigidos pela classe política - os vejo dominados pelo ilimitado desejo de ter e também pelos sedentos megaempresários que ao que parece... são os que estão dominando o mundo.

"Oito pessoas possuem a mesma riqueza que a metade mais pobre da humanidade."¹

A "profecia animada" que assistíamos nas TVs nos anos 80, parece estar se confirmando à exemplo de muitas outras, como as escritas nas obras de George Orwell e Aldous Huxley.

A corrupção que não é exclusividade brasileira massacra povos por este mundo afora. A ganância de quem já tinha muito fez com que empresas passassem a lotar seus galpões com máquinas que substituem humanos em suas operações. 

Mas para quem se venderá quando a maioria estiver desempregada?

Máquinas não comem, não bebem, não vestem, não assistem TV.

Sendo a grande maioria formada por miseráveis, a riqueza da minoria parece que chegaria a um limite onde se faria pensar que todo o valor que se criou em torno do dinheiro não passa de uma grande ilusão.

Referência:

1 - El País. Madri: Grupo Prisma, [2017]-. Diário. Disponível em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2017/01/13/economia/1484311487_191821.html>. Acesso em: 16 jan. 2017.

domingo, 13 de agosto de 2017

Sonhos - Sem Medo


No topo de uma montanha rochosa estava eu com meus pés à beira do precipício, sereno e com uma grande sensação de leveza. O céu estava totalmente limpo e eu podia ver toda a beleza do lugar em volta. Lá embaixo, o mar em todo o seu esplendor e um amontoado de pedras ao pé da montanha. As ondas batiam com vontade dando um espetáculo à parte. Enquanto respirava lentamente, por alguns segundos nenhum pensamento se passou em minha mente. Fechando os olhos, abri os braços e sem hesitar, saltei de cabeça. Logo eu abriria novamente os olhos e colaria os braços juntos ao corpo vendo as pedras se aproximarem rapidamente. Ao fim da queda curvaria o corpo para trás há poucos centímetros e como num passe de mágica me desviaria das rochas e sairia a voar. Eu me mantinha a uma distância muito pequena das ondas, via as espumas se formarem e ouvia com muita nitidez a maravilhosa sinfonia das águas. Por um instante senti que não estava só. E não estava. De cada lado meu havia um grupo de gaivotas acompanhando a cantar. Um pouco mais adiante, vi baleias com seus filhotes felizes a brincar e a provocar sprays. Olhando em direção à praia deserta, observei vários bandos de diferentes espécies de pássaros aproveitando toda aquela liberdade em um fantástico dia ensolarado. Logo comecei a voar cada vez mais alto de modo que tudo ficava cada vez mais pequeno e ao ponto que já não enxergava mais nada, apenas uma escuridão passava a tomar conta de minha visão. 

sexta-feira, 11 de agosto de 2017

Referência


Ele é tão sério que alguns o temem, mas quem o conhece, o admira. Demonstra como poucos os sentimentos pelos amigos. Tem pouco estudo, mas uma inteligência que supera muita gente. Tem talento para muitas coisas, embora nunca admita. Enfrentou madrugadas geladas e muitos temporais para dar o melhor à sua família. Ele conseguiu fazer uma instituição de ensino voltar atrás na reprovação equivocada do filho quando este, desesperado, já não sabia a quem mais recorrer.

Este, é o meu amado pai.


domingo, 30 de julho de 2017

O Último Desejo do Ego


"O inimigo se esconderá no último lugar em que você o procuraria". (Júlio César, 75 a.C.)¹

No dia 20 de julho, quando cheguei em casa do trabalho, meu filho me perguntou:
-Pai, sabe quem morreu?
-Não. Respondi.
-E ele disse: Chester Bennington (vocalista do Linkin Park, banda de rock que eu e meu filho gostamos muito). Ele se suicidou.

Mais tarde fiquei sabendo que no mesmo dia o pai da baterista Eduarda Henkelin (menina que ficou mundialmente conhecida pelo seu talento precoce), também havia tirado a própria vida. Alguns dias depois, lendo o noticiário, fiquei sabendo que uma universitária de 19 anos do Acre havia feito o mesmo e ao vivo via rede social. 

Na madrugada de sexta para sábado (28 e 29 de julho), como tem se tornado rotina, acordei por volta de 3 da manhã e depois de muito rolar, acabei acessando o Facebook. Em uma das páginas que acompanho havia um post com a seguinte pergunta: "O que lhe mantém acordado?" Li algumas respostas bem humoradas e movido pela vontade de rir um pouco mais continuei a leitura, no entanto, nem tudo era alegria. As pessoas resolveram expor suas realidades postando respostas como: "Falta de grana, desemprego, contas a pagar...", "O dia de amanhã", "A pressão de passar no vestibular", "Trabalho", "Ansiedade", "Problemas", "Suicídio".

A solução para todos esses problemas parece estar no lado externo de cada um, mas não está. Quando nascemos, não estamos preocupados com dinheiro, trabalho, estudos, classe social, pois nem sabemos o que tudo isso significa. Essas, são coisas que nos apresentam como parte de uma vida "normal". Você tem que ser batizado em alguma religião, estudar, trabalhar, casar, ter filhos, ser alguém na vida.

"A vida que me ensinaram como uma vida normal
Tinha trabalho, dinheiro, família, filhos e tal
Era tudo tão perfeito se tudo fosse só isso
Mas isso é menos do que tudo,
É menos do que eu preciso."²

E assim vão se formando os padrões dentro da sua cabeça e que te perseguem pelo resto da vida, ou pelo menos até você descobrir que isto não é você, este não é você. Uns descobrem um caminho e passam a viver bem, outros levam uma vida infeliz até o fim, ainda há aqueles que acabam com a própria vida. Quando se sente triste e confuso, sem forças para reagir, vão te dizer que estais deprimido e te receitarão fluoxetina ou alguma outra droga similar; outros vão dizer que é frescura, falta do que fazer ou coisa do demônio que está te possuindo. 

Particularmente acredito que tudo seja uma grande ilusão que nos pega de jeito. Todos nascemos bons e o que chamam de demônio está em nossas cabeças ditando ou querendo ditar as regras. Cabe a nós aceitarmos ou não. O céu ou inferno não são físicos e o que nos leva a um ou a outro é consequência das nossas escolhas. Sobre a possibilidade de vencer o inimigo, acredito não existir. Penso que precisamos conviver e até mesmo aprender com ele sem nos deixar levar pelas suas vontades.

Houve um dia em que uma mulher me falou que sempre teve o desejo de seguir uma determinada carreira. Então ela estudou, se especializou e conseguiu o seu objetivo. A partir daí começou a sentir a necessidade de ir mais adiante, então ela estudou mais, trabalhou mais e conseguiu chegar no topo de sua profissão. Aí surgiu uma pergunta em sua vida: "E agora?" Insatisfeita, a mulher abandonou o emprego, saiu do nordeste e veio para o sul. Começou tudo de novo e mais uma vez ela chegou aonde queria em sua vida profissional. Depois de tudo isso a questão retornou: "E agora?"

Se procurarmos, iremos encontrar inúmeras histórias semelhantes. Todo este roteiro parece vir de algo que não corresponde a quem somos, a nossa verdadeira essência. Este algo, às vezes se contenta com muito pouco, em outros casos ele quer sempre mais; dinheiro, poder, fama e até mesmo a nossa vida. Precisamos estar despertos para aprender a lidar com isto.

"Para que isso ocorra, o ser humano deve inicialmente reconhecer esse fato para posteriormente descobrir a causa. Sem reconhecer o direito de ser feliz, ele nunca vai viver numa sociedade justa, nem em harmonia com os outros seres. Esse direito lhe é intrínseco e habita o seu interior".³

A angústia muitas vezes vem do fato de querer ser normal em um mundo onde a loucura predomina. Querer fazer o que ensinaram que é certo, enquanto todo o resto parece estar errado.

Com a TV ligada enquanto preparava uma limonada numa manhã de domingo, a apresentadora do programa esportivo falou, enquanto mostrava os lances do futebol europeu, que um jogador que havia sido negociado por 60 milhões de euros tinha feito um gol que fez valer cada centavo nele investido. Isso me fez pensar o quão barato estava o tratamento dentário que eu vinha adiando há tempos. São por bobagens como estas que alguns sofrem valorizando coisas sem valor. O que você ganha quando o seu time ganha por exemplo?

"A Matrix está em todo lugar. É tudo que nos rodeia. Mesmo agora, nesta sala. Você pode vê-la quando olha pela janela, ou quando você ligar sua televisão. Você pode sentir isso quando você vai para o trabalho, quando você vai à igreja , quando paga seus impostos. É o mundo que foi colocado diante dos seus olhos para cegá-lo da verdade".⁴

Influências externas também criam seus vícios fazendo-te acreditar até que toda segunda-feira é ruim e que só os dias ensolarados são bons. Na verdade todo dia com sol ou chuva é lindo, toda segunda-feira com trabalho ou sem trabalho é maravilhosa, mesmo porque quando estamos em férias muitas vezes nos confundimos sobre em que dia estamos e até apreciamos uma tarde chuvosa.

Com relação a importância das coisas, quanto valeria aquela mansão que você viu na revista ou o carrão dos seus sonhos se de repente exceto você, toda a população do mundo desaparecesse? Não valeriam nada. Algo só tem valor monetário quando existe alguém que possa pagar. Sendo assim, parece que há alguma ilusão nisso não é mesmo? 

O que realmente vale a pena está conosco o tempo todo. Precisamos reconhecer o mau e aprendermos a evitá-lo. Identifiquemos o que faz parte ou não de nosso ser e passemos a ver a vida de uma outra forma.

"Se alguém quiser seguir-me, negue-se a si mesmo, tome a cruz cada dia e me siga (Jesus Cristo).”⁵

Se parece impossível sair desta prisão, reconhecer que ela existe já é um bom começo. O passo seguinte é descobrir como não levá-la tão a sério e finalmente sentir que é possível ser feliz mesmo vivendo com o "inimigo".

Referências:

1 - Revolver. Direção: Guy Ritchie. Produção: Luc Besson, Virginie Silla. Saint-Denis: EuropaCorp Films, 2005.

2 - Leoni; Paula Toller; Herbert Vianna. Educação Sentimental II. Kid Abelha e os Abóboras Selvagens. Educação Sentimental. Rio de Janeiro: Warner Music, 1985.

3 - Morgana Gomes. A Vida e o Pensamento de Buda. São Paulo. Minuano Cultural.

4 - Matrix. Direção: Lana Wachowski, Andy Wachowski. Produção: Joel Silver. Burbank: Warner Bros., 1999.

5 - Lucas 9:23



sábado, 29 de julho de 2017

Manipulação de Massas, Freud Explica


Nos idos de 1997, uma empresa brasileira de eletrodomésticos lançou o slogan "Produtos feitos para durar". Como consumidor achei aquela frase tão atraente que jamais esqueci. Ao meu ver, nada poderia ser tão inteligente para conquistar novos clientes em termos de propaganda. Mesmo assim, acho que naquela época não cheguei a comprar nenhum produto daquela marca, então não sei dizer se eles falavam a verdade. A verdade aliás, é que a marca ainda existe, o slogan, não mais. Talvez a exemplo de seus concorrentes, tenham percebido que produtos de longa duração são iguais a vendas limitadas. Ou, quem sabe, perceberam que entre produtos de boa qualidade e preços amargos, e de qualidade inferior com preços adocicados, grande parte dos consumidores preferia a segunda opção como no caso dos produtos made in China. Afinal, para alguns o importante é comprar barato, ainda que seja simplesmente para consumir mais e satisfazer o desejo de ter. Algo que não nasceu conosco, mas que é reflexo da ideia de consumismo que surgiu há décadas nos Estados Unidos pelas mãos de Edward Bernays, sobrinho de Sigmund Freud. Baseado em um livro do tio, o publicitário entendeu que as pessoas são manipuláveis e pôs isto à prova quando durante um grande evento fez com que algumas mulheres fumassem cigarros próximo a equipes de imprensa. A ideia era fazer com que o público feminino passasse a fumar e que com isso alavancasse o consumo, já que a indústria do tabaco estava em decadência. Com as imagens divulgadas pelos meios de imprensa, as vendas dispararam. O cigarro que era visto como um símbolo masculino passou a ser consumido também pelas mulheres. Começava aí uma nova fase da publicidade. Bernays passou a trabalhar também para o governo, influenciando em algumas decisões políticas e sempre envolvido com a manipulação das massas. O consumismo passaria a se espalhar pelo mundo e grande parte dos fabricantes se tornariam adeptos da obsolescência programada (produto feito para durar pouco). Esta estratégia também cobraria um preço com o passar do tempo. Em 2012 a humanidade já estava consumindo 30% mais do que o planeta é capaz de repor. Para atender ao ego coletivo a natureza nos fornece todo o tipo de matéria-prima que devolvemos como lixo e pedindo mais. Esta mesma natureza num futuro não muito distante talvez venha a nos dar o limite que não encontramos em nós mesmos.

Referências:

Idec - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Disponível em: <https://www.idec.org.br/consultas/dicas-e-direitos/entenda-o-que-e-obsolescencia-programada>. Acesso em 29 de julho de 2017.

The Century of the Self (Happiness Machines). Direção: Adam Curtis. Produção: BBC. Documentário, 58'17". Disponível em: <https://www.youtube.com/watch/v=tHHVQy3Yd1w> Acesso em: 26 de julho de 2017.




domingo, 16 de julho de 2017

Sabedoria e Sentimento Indígena (Aldeia de Araquari)


Ontem estive pela primeira vez na aldeia Tiaraju que fica às margens da BR-101 em Araquari, próximo à divisa com Guaramirim (norte catarinense). Enquanto eu adentrava a área, crianças iam surgindo pelo caminho com o olhar curioso. Aliás, chegando na aldeia é que vi o quão grande era a quantidade de crianças e também de cachorros que se misturavam às galinhas e aos outros integrantes da comunidade; todos convivendo no mesmo espaço em perfeita harmonia. 

Fui recebido pelo cacique Ronaldo que me permitiu fotografar a maior construção do terreno: a casa de reza; uma construção feita de barro, bambu, palha e uma espécie de cipó. Segundo o cacique, todos se reúnem diariamente na casa para rezar. O local também é utilizado para passar os ensinamentos indígenas às crianças, que inclui o respeito à natureza, às pessoas e a manutenção da língua Guarani. A casa serve ainda como local de palestras dadas à estudantes de escolas de cidades como Jaraguá do Sul e Joinville, e também para apresentações ocasionais dos dois corais da aldeia, sobre os quais Ronaldo fala com muito orgulho. Durante a conversa muita coisa interessante ouvi do cacique como o que segue:

"Sempre que precisamos tirar algo da natureza, antes pensamos se aquilo não irá fazer falta, ou, no caso das plantas, se há possibilidade de nascerem mais da mesma espécie. 

Todo homem deveria respeitar a natureza, pois o homem faz parte da natureza e a natureza também está no homem, e tudo está ligado, tudo é uma coisa só. Não há divisão. Da natureza vem os seres, o alimento, a cura; então não faz sentido destruí-la. 

Tudo deve ser usado conforme necessidade. Não deve haver exageros. 

Nos preocupamos muito com a mata, ela filtra os males trazidos pelo vento, protegendo a aldeia e a cidade. Mas o homem da cidade não entende isto e destrói tudo por dinheiro e sem pensar no amanhã. 

Hoje não consigo ensinar as crianças a caçar e pescar, pois já não existem animais da terra e nem peixes na região. Temos muitas dificuldades. A área destinada à aldeia é muito pequena e a terra não é boa para o plantio. Não podemos tentar nada além desse pedaço de terra. 

Não entendo como o homem pode alugar, comprar e vender algo que não é dele. A terra é de Deus, da natureza e para o uso de todos."

Enquanto conversávamos não tive como deixar de notar o respeito com que as crianças se dirigiam ao jovem cacique. Respeito que também estava presente nas brincadeiras. Enquanto jogavam futebol, não ouvi sequer um grito ou palavrão, pelo menos em português. 

Os pequenos também pareciam felizes e tinham um certo ar de pureza. Os adultos conversavam de forma discreta e aparentavam uma certa serenidade mesmo diante do pouco que possuíam.

Na aldeia existem também dois pajés. Usa-se medicamento da cidade mas também muito remédio à base de ervas indicado pela pajé. Uma curiosidade sobre a casa de reza é que, segundo Ronaldo, ela é quente no inverno e no verão tem clima fresco. 

A valorização das tradições e a preocupação com a manutenção da língua é algo bem perceptível.


sábado, 8 de julho de 2017

Eles nos entendem


Sentados à beira da cama, conversávamos sobre o quão difícil vem se tornando o tratamento de nossa pequena Bella. Com sérios problemas de saúde, nossa amiga canina sofre desde o início de 2011, e os medicamentos vêm se tornando cada vez mais caros. Durante o diálogo com minha esposa, Bella permanecia deitada com a cabeça sobre as patas. Com aperto no peito, cheguei a falar que se a medicação chegasse a um valor alto demais, talvez fosse o caso de acharmos quem pudesse adotá-la e dar-lhe o tratamento adequado. Encerrada a conversa, saí em direção à cozinha para comer algo. Me estranhou o fato de que ela não veio atrás de mim como costuma a fazer, sempre esperando algo que possa comer também. Voltei ao quarto e vi que ela permanecia imóvel na mesma posição e com os olhos brilhantes. Imediatamente lembrei que cometi um grande erro em falar aquilo em sua presença. Então me aproximei dela e disse que independentemente de qualquer coisa eu a amo muito e vou cuidá-la até o último suspiro dela ou meu. Bella se levantou rapidamente e com o rabo balançando, saiu pela casa brincando muito e chamando a minha atenção para que fizesse o mesmo, como é de costume quando está feliz.


quinta-feira, 15 de junho de 2017

Zooilógicos


Há uma localidade chamada Campos Verdes que faz parte da cidade de Laguna. O lugar fica mais ou menos há 10 quilômetros do centro. Não sei como é hoje, mas na minha infância era um local onde a grande maioria dos moradores vivia da pesca artesanal. 



Seu comércio se resumia há alguns botecos e alguns poucos mercadinhos que eram chamados de vendas. Normalmente os terrenos eram relativamente grandes e com mais de uma casa, quase sempre de madeira. Estradas de pouquíssimo movimento sem calçamento ou asfalto; raramente se via um carro. 



Meus avôs paternos moravam em um desses terrenos. A pequena casa de madeira era bastante simples, mas eu adorava passar alguns dias lá. No quintal, além das árvores frutíferas, bambuzais e muita grama, havia também muitos patos, marrecos, galinhas, pássaros e um cachorro. 



Para mim era uma festa ver minha vó alimentar suas aves. Bastava sair na rua com um saco de milho ao mesmo tempo em que gritava "pi pi pi pi pi", que logo era cercada por uma boa quantidade de animais. Em minha casa não havia um terreno tão espaçoso e muito menos tantos bichos. 



Aquele para mim era um momento único. A iluminação pública de Campos Verdes era bastante precária e a casa ficava longe da estrada. Ao anoitecer, a escuridão só não era total por causa dos vaga-lumes que surgiam. O silêncio só era quebrado quando alguma ave sobrevoava o quintal emitindo algum som. 



O único momento triste ficava por conta de quando eu via minha vó sacrificar algum animal para o almoço. Ainda criança, já tinha visto todo tipo de bicho doméstico. Animais selvagens, somente pela televisão ou quando algum circo chegava na cidade, mas os magros e judiados animais não se pareciam em nada com aqueles da TV. Aos doze anos tive a oportunidade de visitar o zoológico de São Paulo. Por algum motivo que desconhecia, a experiência não havia sido tão marcante como eu esperava. 



Já na vida adulta, visitei um zoológico catarinense e uma cena ficou gravada em minha mente. Fui ao local onde estava o urso e vi o animal sobre uma espécie de palanque caminhando repetidamente de um lado para o outro. Com pouca bateria na máquina, fiz uma curta filmagem. Alguns anos depois revendo fotos e vídeos e novamente assistindo a cena, resolvi pesquisar sobre aquele comportamento. Em um site especializado, li que animais que se comportam daquele jeito estão com um nível altíssimo de estresse por conta do confinamento. No momento em que li esta informação decidi não mais visitar zoológicos. 



Meu contato com animais atualmente restringe-se a morar com minha cadelinha, ver os animais que encontro em minhas andanças pela natureza e também apreciar os beija-flores e as cambacicas que vêm beber a água que preparo para eles aos finais de semana. 



Estes últimos aliás, chegam a pousar na mesa enquanto tomo café da manhã e um deles inclusive já pousou em minha mão. Há quem diga que certos animais se aproximam de nós por conta da comida. Eu penso que além da comida, eles procuram carinho e respeito, coisas que fazem com que estes queridos irmãos percam o receio e se aproximem cada vez mais da nossa raça.


domingo, 4 de junho de 2017

A Luz Por Trás da Escuridão


Desde o início da vida, pouco tempo depois de nascermos, aprendemos que tudo tem um fim, inclusive que a própria vida neste mundo em algum momento acabará. Mesmo com esta consciência, fazemos disto o que há de pior a nos acontecer. Tememos pelo fim e lutamos com todas as forças para evitar a sua chegada. Lembro que no final de 2006 ou 2007 - não tenho bem certeza quanto ao ano - recebi a notícia de que um colega de trabalho havia sofrido um enfarte. Embora fosse uma pessoa que estava sempre em um altíssimo astral, eu vinha notando nos últimos meses que seu semblante já não era mais o mesmo, assim como o seu comportamento. Semanas depois de ter sobrevivido ao sério problema de saúde, ele retornou ao trabalho e durante uma conversa que tivemos sobre o que havia acontecido, o colega relatou a situação em detalhes para mim surpreendentes. Disse que simplesmente "apagou" enquanto estava no hospital para ser atendido. Disse ainda que algum tempo depois começou a ver toda a movimentação à sua volta e as tentativas de reanimação; tudo isso como se estivesse vendo do teto da sala hospitalar. Isso mesmo, estava vendo de cima os profissionais tentando fazer o seu corpo voltar à vida. Ele mostrou as marcas no peito deixadas pelo uso do desfibrilador e falou com o velho bom humor que aquela havia sido uma experiência chocante. Em 2015 meu filho contou que o avô de seu amigo também sofreu um enfarte e que também passou por uma experiência daquilo que muitos chamam de quase morte. No relato, o sobrevivente disse que após ver uma luz intensa esteve em um lugar muito agradável e de muita paz. Já em abril deste ano, estive visitando meus sogros e ouvi a história sobre um tio de minha esposa que está com sérios problemas de saúde e que os médicos consideram ser irreversível. Na época muito se falou da preocupação dele com relação à morte. Ontem fiquei sabendo que durante a última semana o mesmo também passou por uma experiência de quase morte. Conforme seu relato, também após a visão de uma forte luz, ele esteve em um lugar tão maravilhoso, de tanta paz e tanta beleza, que se a morte for tudo aquilo que viu, deseja que o fim chegue logo. Com base nessas histórias e refletindo sobre o assunto, tenho a sensação de que o que faz o medo não é a morte em si, mas sim, o desligamento em relação a tudo o que criamos ou conquistamos como emprego, projetos, família e amigos. 


O sofrimento que nos leva até ao fim da vida como as doenças que tanto nos maltratam e nos impedem de fazer aquilo que gostamos, talvez seja a pior das experiências. Por isso é que talvez tenhamos que buscar viver de forma mais intensa sob qualquer situação. Abraçar com vontade, curtir a beleza de um dia de sol, enxergar a beleza da chuva, reconhecer o verdadeiro valor das coisas, principalmente das mais simples. Me perguntam se eu não me incomodo em comer a comida fria que levo pronta de casa para o trabalho e como no carro durante o almoço. Eu respondo que existem muitas coisas que criamos em nossa mente como por exemplo, que a comida tem que ser quente ou fria, doce ou salgada, mas que quando a fome é realmente forte nada disso importa. Digo ainda que a causa que me faz optar por este tipo de alimentação é o tempero que dá sabor às minhas refeições. Se soubermos usar nossa mente, podemos alcançar feitos incríveis e a ciência vêm provando isso a cada dia. Então, saibamos nos livrar dos rótulos e das regras que criamos para tudo e identifiquemos em nós mesmos as possibilidades de fazermos coisas aparentemente sem graça se tornarem algo excelente. Aprendamos a reconhecer o privilégio de ter o que comer independentemente do que for, sempre ao sentar à mesa. Ainda que possa ser chato por tê-lo como obrigação, mas que é uma necessidade conforme o mundo que moldamos, reconheçamos que é bom ter um emprego enquanto muitos estão perdendo os seus. Lembremos da importância de ao final do dia, ao chegar em casa, termos uma família para abraçar, enquanto muitos vivem solitários ou não têm uma boa relação com as suas. Aprendamos que entre os temperos que dão sabor à vida, não estão os excessos, mas sim , o essencial para se viver bem. O céu e o inferno estão em nós mesmos e a consciência sobre nossos atos é que nos levarão a um ou a outro. A vida não cessa e a matéria também não, ela apenas se transforma.


segunda-feira, 1 de maio de 2017

Rota das Cachoeiras: Um Lugar Para Ser Sentido (Corupá)


Após o início da trilha, além dos decks, das pontes e dos caminhos de pedras, nada mais vem da mão do homem. Pode-se dizer que quase a totalidade do que se vê é natureza pura. 


Nada de sons maquinais, nada de correrias, nada de pressão; a única fumaça presente é formada pelas gotículas que o vento cuidadosamente traz diretamente das quedas d'água. 


E quem consegue parar as águas que descem com imensa força? Elas estão por toda parte neste santuário. A vida neste lugar é intensa. Ela é sentida no balanço das folhas, na canção das corredeiras, no voo das borboletas e nas pedras que mesmo pisoteadas continuam lá... paradas, mas cheias de vida. 


"Os mesmos entes que habitam e constroem a realidade quântica - as partículas, as energias, os princípios e as leis - habitam e constroem o fundamento físico essencial do mundo onde vivemos. Esses entes existem na pedra, no barro, nos vegetais, nos insetos, no fio de cabelo, nas estrelas, nas galáxias..."¹ 


Em pouco tempo de caminhada as lembranças relacionadas às obrigações do cotidiano vão ficando para trás. Nada mais incomoda, nada mais importa. 


O oxigênio que invade os pulmões e rega as veias, renova as energias e parece provocar um rejuvenescimento tornando possível continuar os 2.900 metros com suas subidas íngremes. 


O desafio aos joelhos e ligamentos é amenizado pelo incentivo dos pássaros que se revezam em suas melodias. As várias formas e tons de cores são outros constantes estimulantes. 


Os pesos que se trazem consigo vão abandonando o corpo um a um, e a leveza de uma folha que desce dançando pelo ar é o que sente a alma. Parece impossível terminar o percurso e não se sentir positivamente diferente. 


Os mais atentos vão perceber que a cada passo dado em direção às alturas, o cansaço do corpo físico que aumenta é compensado pela energia adquirida pelo espírito. 


Ao final, retorna-se ao ponto de partida tão renovado, que as dores trazidas pelo corpo não passam de pequenas lembranças da experiência recém realizada.

Segue vídeo da última queda:



Referência:

1 - Osny Ramos. A Física Quântica em Nossa Vida. Blumenau. Odorizzi. 2008.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Índios


Invadiram a terra e passaram a se dizer donos.
Espalharam sangue e destruição.
Escravizaram, roubaram, estupraram, mataram.
Não respeitaram a cultura nativa; ignoraram qualquer sentimento.
Derrubaram florestas, poluíram rios, exterminaram vidas.
Plantaram maldade onde não existia. 
Acabaram com a paz, trouxeram doenças.
Quiseram ensinar o que consideravam certo. Ensinaram a rezar.
Reduziram e continuam reduzindo ao mínimo os espaços aos que resistem ao tempo.
Está difícil plantar, está difícil pescar.
Onde havia peixe, agora é só veneno.
Onde havia árvore, agora é só asfalto.
Onde havia bicho, agora é só gente que não compreende a importância da natureza.
No lugar da alegria, hoje resta uma agonia, um aperto no peito diante da constatação de que tudo está se perdendo e de um futuro um tanto quanto incerto.
Os verdadeiros brasileiros continuam em estado de extinção.
Pode ser que as gerações futuras vejam os índios apenas em desenhos, fotos ou nas tatuagens que vão estampar os corpos dos filhos daqueles que foram responsáveis pelo extermínio de uma raça.
Mas ainda assim, para compensar tudo que foi tirado, lhes foi dado um dia para comemorar. 
Comemorar o quê?

Eduardo C. Cardoso

domingo, 9 de abril de 2017

Parque Malwee Além do que os Olhos Veem


Muitas vezes andando a passos apressados e envolvidos por pensamentos que não param e não nos deixam perceber o mundo que há à nossa volta, deixamos de viver experiências fantásticas. Enxergamos apenas aquilo que está à nossa frente e mesmo assim, sem muita atenção. 



O Parque Malwee é um desses lugares mágicos que nos propiciam momentos encantadores. Com mais de 35 mil árvores e 17 lagoas distribuídos em 1,5 milhão de metros quadrados, não há como você não se sentir bem neste ambiente. 



A brisa refrescante é um dos cartões de visita. Este lugar inevitavelmente me traz muitas reflexões. Mesmo sendo um local muito bem cuidado, infelizmente não é raro ver lixo há meio metro de uma lixeira. 



Fico imaginando como pode alguém ser tão insensível diante de tanta beleza e de um lugar em que toda a estrutura e o acesso é totalmente gratuito. Imaginem se um dia os proprietários resolvem fechar este paraíso por se aborrecerem com esta situação que vem se repetindo. 



Enquanto vejo as pessoas passando com seus fones de ouvido, tento imaginar o que há de mais atraente saindo de seus aparelhos celulares do que o canto dos vários corais de pássaros. Mesmo quando temos a oportunidade de tal contato com a natureza, parece que insistimos em nos distanciar dela; a nossa verdadeira casa.


“Dependemos da natureza não apenas para a nossa sobrevivência física. Precisamos dela também para mostrar-nos o caminho para dentro de nós, para libertar-nos da prisão da mente. Ficamos perdidos fazendo coisas, pensando, lembrando, prevendo – perdidos nas complicações e num mundo de problemas.”¹



Lugares como este nos permitem pelo menos por alguns segundos, silenciar a mente. Eu particularmente consigo alcançar este estado no momento em que me preparo para fotografar um inseto, um pássaro ou algum outro animal. 



Consigo também quando chego ao local por volta das seis e meia da manhã, quando raramente há alguém além de mim e então calmamente paro para ver as pequenas formas de vida que se espalham pelo parque. 



Durante estas experiências percebo o quanto é difícil calar aquela voz que insiste em nos falar por todo instante durante nossa vida. Como é difícil ter o autocontrole, como é difícil deixar de errar!



“Inútil vencer, numa batalha, milhões de homens. Vencer-se a si é a maior vitória.”²

Referências

1 - Eckhart Tolle. O Poder do Silêncio. Rio de Janeiro. Sextante. 2005.

2 - Morgana Gomes. A Vida e o Pensamento de Buda. São Paulo. Minuano Cultural.