A Luz Por Trás da Escuridão
Desde o início da vida, pouco tempo depois de nascermos, aprendemos que tudo tem um fim, inclusive que a própria vida neste mundo em algum momento acabará. Mesmo com esta consciência, fazemos disto o que há de pior a nos acontecer. Tememos pelo fim e lutamos com todas as forças para evitar a sua chegada. Lembro que no final de 2006 ou 2007 - não tenho bem certeza quanto ao ano - recebi a notícia de que um colega de trabalho havia sofrido um enfarte. Embora fosse uma pessoa que estava sempre em um altíssimo astral, eu vinha notando nos últimos meses que seu semblante já não era mais o mesmo, assim como o seu comportamento. Semanas depois de ter sobrevivido ao sério problema de saúde, ele retornou ao trabalho e durante uma conversa que tivemos sobre o que havia acontecido, o colega relatou a situação em detalhes para mim surpreendentes. Disse que simplesmente "apagou" enquanto estava no hospital para ser atendido. Disse ainda que algum tempo depois começou a ver toda a movimentação à sua volta e as tentativas de reanimação; tudo isso como se estivesse vendo do teto da sala hospitalar. Isso mesmo, estava vendo de cima os profissionais tentando fazer o seu corpo voltar à vida. Ele mostrou as marcas no peito deixadas pelo uso do desfibrilador e falou com o velho bom humor que aquela havia sido uma experiência chocante. Em 2015 meu filho contou que o avô de seu amigo também sofreu um enfarte e que também passou por uma experiência daquilo que muitos chamam de quase morte. No relato, o sobrevivente disse que após ver uma luz intensa esteve em um lugar muito agradável e de muita paz. Já em abril deste ano, estive visitando meus sogros e ouvi a história sobre um tio de minha esposa que está com sérios problemas de saúde e que os médicos consideram ser irreversível. Na época muito se falou da preocupação dele com relação à morte. Ontem fiquei sabendo que durante a última semana o mesmo também passou por uma experiência de quase morte. Conforme seu relato, também após a visão de uma forte luz, ele esteve em um lugar tão maravilhoso, de tanta paz e tanta beleza, que se a morte for tudo aquilo que viu, deseja que o fim chegue logo. Com base nessas histórias e refletindo sobre o assunto, tenho a sensação de que o que faz o medo não é a morte em si, mas sim, o desligamento em relação a tudo o que criamos ou conquistamos como emprego, projetos, família e amigos.
O sofrimento que nos leva até ao fim da vida como as doenças que tanto nos maltratam e nos impedem de fazer aquilo que gostamos, talvez seja a pior das experiências. Por isso é que talvez tenhamos que buscar viver de forma mais intensa sob qualquer situação. Abraçar com vontade, curtir a beleza de um dia de sol, enxergar a beleza da chuva, reconhecer o verdadeiro valor das coisas, principalmente das mais simples. Me perguntam se eu não me incomodo em comer a comida fria que levo pronta de casa para o trabalho e como no carro durante o almoço. Eu respondo que existem muitas coisas que criamos em nossa mente como por exemplo, que a comida tem que ser quente ou fria, doce ou salgada, mas que quando a fome é realmente forte nada disso importa. Digo ainda que a causa que me faz optar por este tipo de alimentação é o tempero que dá sabor às minhas refeições. Se soubermos usar nossa mente, podemos alcançar feitos incríveis e a ciência vêm provando isso a cada dia. Então, saibamos nos livrar dos rótulos e das regras que criamos para tudo e identifiquemos em nós mesmos as possibilidades de fazermos coisas aparentemente sem graça se tornarem algo excelente. Aprendamos a reconhecer o privilégio de ter o que comer independentemente do que for, sempre ao sentar à mesa. Ainda que possa ser chato por tê-lo como obrigação, mas que é uma necessidade conforme o mundo que moldamos, reconheçamos que é bom ter um emprego enquanto muitos estão perdendo os seus. Lembremos da importância de ao final do dia, ao chegar em casa, termos uma família para abraçar, enquanto muitos vivem solitários ou não têm uma boa relação com as suas. Aprendamos que entre os temperos que dão sabor à vida, não estão os excessos, mas sim , o essencial para se viver bem. O céu e o inferno estão em nós mesmos e a consciência sobre nossos atos é que nos levarão a um ou a outro. A vida não cessa e a matéria também não, ela apenas se transforma.
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