quinta-feira, 23 de março de 2017

Crenças


Independentemente de seu significado, sempre fui um admirador dos templos e igrejas no sentido arquitetônico. Tenho muitas fotos dessas construções espalhadas pelo estado catarinense. Outro interesse que adquiri com o tempo, foi o de saber um pouco mais sobre algumas das tantas religiões e filosofias existentes. Já na infância eu fazia algumas perguntas que deixavam certas pessoas um pouco incomodadas. Estas questões me motivaram na vida adulta a procurar respostas não mais perguntando, mas lendo sobre tudo o que era possível, ouvir o que todos tinham a dizer, ou simplesmente observando. Sobre aqueles que se incomodam com questionamentos, mas que representam uma crença, aprendi sobre como é grande a responsabilidade que estas pessoas - muitas vezes sem perceber - abraçam. Diante de certas situações, é preciso ter equilíbrio para não ofuscar a própria imagem, assim como a da crença defendida. 


Certa vez fui convidado a participar de um encontro de divulgação de uma antiga filosofia. Enquanto aguardava o início da apresentação na sala da residência, percebi que havia na estante um aparelho daqueles que captam imagem de satélite de forma ilegal. Dado o início da reunião, onde todos eram vegetarianos, foi-se explicando que a filosofia pregava entre várias coisas, a honestidade e o respeito à toda forma de vida. Enquanto a explanação prosseguia, eis que surge um pequeno grilo noturno que iniciava uma série de saltos no chão entre os participantes. Imediatamente, uma senhora representante da filosofia, pegou um chinelo e tentou à vários golpes acertar o pobre inseto. Para o alívio do pequeno visitante, eu também sou um defensor da vida. Me agachando com cuidado, consegui capturá-lo e soltá-lo em lugar seguro. 


Este exemplo simples que acabo de relatar é algo parecido com o que acontece nas várias outras religiões e filosofias com as quais tive contato. Encontrei controvérsias até mesmo nos mais conhecidos e respeitáveis livros, alguns dos quais considerados inquestionáveis. Aliás, como aprender e respeitar algo sobre o qual não se permite questionar? Tudo o que é inquestionável nos limita. Por outro lado, acredito que o mais importante não é o que se segue ou se crê, mas sim, o que se pratica. Todas as religiões ensinam coisas boas, mas nenhuma será útil se tudo ficar somente na teoria, se não houver a prática do bem, a quebra dos preconceitos, o respeito mútuo, o amor sincero que não espera nada em troca.

domingo, 19 de março de 2017

Lições


A vida nos ensina muito, embora quase sempre não percebemos.
Depois de muito tempo sofrendo, buscando ser o melhor, 
É que descobri que eu não preciso ser o melhor, mas sim, fazer o meu melhor.

Que a vida é muito curta para se perder tempo atrás de coisas muito grandes, 
A felicidade está nas pequenas coisas.
Levei muito tempo para entender que das vezes em que chorei na solidão,
Na verdade não estava só e que os verdadeiros amigos nunca me abandonam.

Demorei, mas aprendi que o tempo é o melhor dos cicatrizantes,
Que a paciência é um poderoso remédio nas horas difíceis,
Que um abraço vale mais que mil presentes
E que o estar presente não tem preço.

A vida me ensinou que uma palavra pode ter mil significados,
Que um sorriso pode salvar um dia,
Que a serenidade desestrutura a arrogância,
Que a atenção pode aliviar a tensão,
Que a humildade me deixa leve.

Ela também me fez ver 
Que a verdadeira beleza muitas vezes não está nas coisas como elas são,
E sim, na forma como eu as vejo,
Que assim como o calor do sol aquece o corpo, o calor humano pode aquecer a alma,
Que eu posso muito, mas nós podemos muito mais.

quinta-feira, 9 de março de 2017

Mestres Irracionais


Em setembro de 2012, tentei subir pela primeira vez o Morro da Antena (Jaraguá do Sul - SC), mas pelo forte calor e pela falta de condição física, acabei desistindo antes da metade do caminho.

Três meses depois fiz a segunda tentativa. Lembro que assim que saí do carro, fui recebido por um cão de um morador local. Acariciei sua cabeça e iniciei a caminhada. O animal começou a me acompanhar e ia sempre um pouco à minha frente. A cada parada que eu fazia (e foram várias) para tomar fôlego, o simpático animal também parava, sentava e ficava me olhando como quem estava a me incentivar a não desistir.

Fui acompanhado por ele até o topo do morro onde me fez companhia o tempo todo. Das vezes que sentei contemplando a belíssima visão e o maravilhoso silêncio interrompido somente pelo não menos maravilhoso canto dos pássaros ou som do vento que balançava a vegetação, ele ao meu lado também sentava parecendo estar com o mesmo sentimento que eu.

Ao descer o morro, o cão mais uma vez me acompanhou e foi comigo até a porta do carro onde mais uma vez o acariciei me despedindo.

Ontem voltei ao morro, desta vez não para ir até o topo, mas para fotografar uma igreja que na época estava em construção. Embora soubesse que fosse difícil, tentei ir até o local com meu carro. Assim que ultrapassei o ponto onde da vez anterior havia deixado o veículo, vi o mesmo cão passando ao meu lado a passos lentos e olhando na minha direção que apesar do vidro escuro, parecia ainda assim que estava me enxergando e reconhecendo.

Pela dificuldade da subida tive que continuar, porém, quando cheguei a uma determinada curva, o carro começou a patinar, o nervosismo tomou conta de mim mas tive que pôr os nervos no lugar e iniciar uma descida de ré (andar de ré nunca foi o meu ponto forte).

Em um determinado ponto surgiu um outro carro atrás de mim tentando subir. Com o apoio de um pedestre, consegui colocar meu veículo em uma posição para que este outro pudesse seguir, e quando a senhora que estava no outro carro assim o fez, ela ou um alguém que pudesse estar com ela dirigiu-me em alto e bom som um xingamento.

Ao descer mais um pouco e conseguir estacionar em um lugar seguro, comentei com o rapaz que me auxiliou e que estava passando no momento: "Aquela senhora que provavelmente está indo à igreja, me xingou." Um outro cidadão que estava próximo e me ouviu, sorriu e disse: "Não tem problema, ao chegar na igreja ela irá pedir perdão e vai ficar tudo certo."

Prosseguindo até meu destino, desta vez a pé, cheguei até a igreja e a primeira coisa que vi foi justamente o carro da pessoa que havia me xingado há poucos instantes.

Certa vez uma senhora me falou que tinha uma grande dúvida que a atormentava, ela disse que gostava mais de cachorros do que de pessoas e me perguntou o que eu achava disso. Eu na minha humilde opinião, disse que também admiro e respeito muito os animais, mas disse também que me parecia mais fácil realmente conviver com alguém que não expressa opinião, que não julga, que não fala, não guarda mágoa.

Tenho por hábito, vez ou outra me isolar em lugares onde não há nenhum ser humano além de mim. Faço isto porquê me faz um bem muito grande e passo nesses momentos por experiências maravilhosas que renovam e dão forças para continuar a vida.

No entanto, reconheço que este isolamento deve ser momentâneo e acredito que o caminho da evolução passa pela convivência com a própria espécie.

Os outros têm "defeitos", nós também temos. Com aqueles que admiramos, temos coisas que julgamos boas a aprender. Com aqueles que consideramos de difícil trato, temos coisas que consideramos nocivas a rejeitar, e assim, aprendemos com os dois "tipos".

Os animais também nos ensinam.  A educação e o companheirismo que faltou à senhora ou seu acompanhante que havia me insultado, sobrou no pequeno ser "irracional" que havia me acompanhado três anos antes.

Esse é o cão ao qual me refiro (foto de 2012)


Obs.: Texto escrito em 14 de fevereiro de 2016.

terça-feira, 7 de março de 2017

Coisas Raras


Procurando por belos lugares no interior da pequena cidade de Apiúna (Vale do Itajaí), acabei achando mais do que procurava. Me deparei com pessoas respeitosas, educadas e muito simpáticas (a maioria acenava por onde eu passava). Mas a cena que mais me marcou, foi a imagem de um senhor que vinha dirigindo uma tobata e que me deu um sorriso, que embora eu não tivesse percebido um dente sequer em sua boca, achei um dos mais belos que já vi. 

Sem pronunciar uma só palavra, percebi uma serenidade no olhar e uma enorme simpatia no rosto. Parece-me  que eu não fui o único a ter esta impressão. Em volta de seu veículo, enquanto o senhor dirigia lentamente, havia uns 3 ou 4 cães que alegremente pulavam em círculo e sem parar, numa demonstração de que também notavam a aparente pureza daquele ser e que provavelmente os fazia sentir bem.

Quando consigo me desligar das cobranças e das obrigações do dia a dia, consigo perceber coisas que normalmente não atraem minha atenção e esta cena me fez lembrar que quando estamos de bem com a vida, tudo à nossa volta reage de forma positiva.