Em setembro de 2012, tentei subir pela primeira vez o Morro da Antena (Jaraguá do Sul - SC), mas pelo forte calor e pela falta de condição física, acabei desistindo antes da metade do caminho.
Três meses depois fiz a segunda tentativa. Lembro que assim que saí do carro, fui recebido por um cão de um morador local. Acariciei sua cabeça e iniciei a caminhada. O animal começou a me acompanhar e ia sempre um pouco à minha frente. A cada parada que eu fazia (e foram várias) para tomar fôlego, o simpático animal também parava, sentava e ficava me olhando como quem estava a me incentivar a não desistir.
Fui acompanhado por ele até o topo do morro onde me fez companhia o tempo todo. Das vezes que sentei contemplando a belíssima visão e o maravilhoso silêncio interrompido somente pelo não menos maravilhoso canto dos pássaros ou som do vento que balançava a vegetação, ele ao meu lado também sentava parecendo estar com o mesmo sentimento que eu.
Ao descer o morro, o cão mais uma vez me acompanhou e foi comigo até a porta do carro onde mais uma vez o acariciei me despedindo.
Ontem voltei ao morro, desta vez não para ir até o topo, mas para fotografar uma igreja que na época estava em construção. Embora soubesse que fosse difícil, tentei ir até o local com meu carro. Assim que ultrapassei o ponto onde da vez anterior havia deixado o veículo, vi o mesmo cão passando ao meu lado a passos lentos e olhando na minha direção que apesar do vidro escuro, parecia ainda assim que estava me enxergando e reconhecendo.
Pela dificuldade da subida tive que continuar, porém, quando cheguei a uma determinada curva, o carro começou a patinar, o nervosismo tomou conta de mim mas tive que pôr os nervos no lugar e iniciar uma descida de ré (andar de ré nunca foi o meu ponto forte).
Em um determinado ponto surgiu um outro carro atrás de mim tentando subir. Com o apoio de um pedestre, consegui colocar meu veículo em uma posição para que este outro pudesse seguir, e quando a senhora que estava no outro carro assim o fez, ela ou um alguém que pudesse estar com ela dirigiu-me em alto e bom som um xingamento.
Ao descer mais um pouco e conseguir estacionar em um lugar seguro, comentei com o rapaz que me auxiliou e que estava passando no momento: "Aquela senhora que provavelmente está indo à igreja, me xingou." Um outro cidadão que estava próximo e me ouviu, sorriu e disse: "Não tem problema, ao chegar na igreja ela irá pedir perdão e vai ficar tudo certo."
Prosseguindo até meu destino, desta vez a pé, cheguei até a igreja e a primeira coisa que vi foi justamente o carro da pessoa que havia me xingado há poucos instantes.
Certa vez uma senhora me falou que tinha uma grande dúvida que a atormentava, ela disse que gostava mais de cachorros do que de pessoas e me perguntou o que eu achava disso. Eu na minha humilde opinião, disse que também admiro e respeito muito os animais, mas disse também que me parecia mais fácil realmente conviver com alguém que não expressa opinião, que não julga, que não fala, não guarda mágoa.
Tenho por hábito, vez ou outra me isolar em lugares onde não há nenhum ser humano além de mim. Faço isto porquê me faz um bem muito grande e passo nesses momentos por experiências maravilhosas que renovam e dão forças para continuar a vida.
No entanto, reconheço que este isolamento deve ser momentâneo e acredito que o caminho da evolução passa pela convivência com a própria espécie.
Os outros têm "defeitos", nós também temos. Com aqueles que admiramos, temos coisas que julgamos boas a aprender. Com aqueles que consideramos de difícil trato, temos coisas que consideramos nocivas a rejeitar, e assim, aprendemos com os dois "tipos".
Os animais também nos ensinam. A educação e o companheirismo que faltou à senhora ou seu acompanhante que havia me insultado, sobrou no pequeno ser "irracional" que havia me acompanhado três anos antes.
Esse é o cão ao qual me refiro (foto de 2012)
Obs.: Texto escrito em 14 de fevereiro de 2016.
Ótima reflexão, sábias palavras!
ResponderExcluirObrigado Joice.
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